O avanço da pandemia do novo coronavírus e seus reflexos na vida social e econômica de cada um e de todos nós está causando uma espécie de neurose coletiva. Estamos com medo de perder a vida, de perder alguém próximo ou de perder a qualidade de vida que habitualmente desfrutávamos. A sensação é de medo e o medo é causado pela possibilidade real de perda.
Nesse ambiente de estresse emocional, nossa psique está sendo colocada sob prova.
Dizem os entendidos que a psique controla nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos – sejam eles conscientes ou inconscientes. Anotam ainda os mestres da psicologia que a função da psique é guiar os indivíduos para que eles se adaptem a determinado ambiente (social e físico), enquadrando-os. Ela é formada por sistemas e níveis diferentes, mas que se relacionam entre si.
O psiquiatra Carl Gustav Jung ensina que o processo pelo qual a consciência de uma pessoa se torna individual e/ou se distingue de outras é conhecido como individuação, responsável por descrever o jeito pelo qual uma coisa é reconhecida/identificada como diferente das outras. A individuação pode ser entendida como um processo de mergulho interno e de autoconhecimento.
Mesmo sem conhecimento específico na área, percebo que os embates que estamos travando sobre a covid-19, como enfrenta-la, o que fazer para preservar a vida e não matar a econômica, não fulminar empregos, não acabar com empresas e nem empurrar empresários para a falência, desafia nossos níveis de psique. Estamos perdendo nossa individuação, que é aquela capacidade apontada pelo mestre Jung, que é um procedimento que inspira o indivíduo a elaborar condições para que cada pessoa desperte o melhor que tem dentro de si, saindo de um estado de retraimento e experimentando um convívio mais amplo e coletivo sem perder sua individualidade.
Penso que para preservar nossa individualidade, nossa forma de ver o mundo, interpretá-lo e construir alternativas, seria interesse respeitar o modo pelo qual o outro também enxerga esse mesmo mundo ameaçado pela covid-19. Aquele que defende medidas mais restritivas como alternativa para barrar a disseminação do vírus, inclusive com adoção de lockdown, que o faça e seja respeitado por ter essa percepção. Ele também é uma individualidade e sempre vai reagir e interagir de acordo com as informações acumuladas ao longo de sua vida.
De igualmente, quem defende medidas menos restritivas e não concorda com a suspensão do funcionamento de certas atividades econômica, também precisa ser respeitado. Não pode ser tratado como fosse um ser alienado. Sua percepção é única, seu medo é individual, e isso o autoriza a lutar contra o que ele entende como ameaça, seja a sua vida ou a vida de seu negócio.
Ao final das contas, todos estamos no mesmo barco, enfrentamos o mesmo medo representado pela covid-19 e buscamos sobreviver de acordo com nível de nossa psique. A luta contra o covid-19 é de todos e ao mesmo tempo de cada um e cada indivíduo – dentro de sua individualidade – luta como poder e de acordo com sua carga de informação.
A luta contra a covid-19 e seus efeitos deletérios não pode ser transformada em luta de classes. Manter o equilíbrio, a sensatez e o respeito pode ser uma saudável alternativa e, quem sabe, o melhor caminho para se enfrentar essa desafiado e mortífera pandemia. Que todos se manifestem e sejam respeitados por suas manifestações.
Para concluir, considero saudável asseverar que cada gestor público foi parido pelas urnas, seja ele prefeito, governador ou presidente da República. Assim todos estão legitimados para adotar as medidas que consideram mais apropriadas para o momento. Ainda que discordemos e temos o direito de discordar e até de protestar, precisamos manter o respeito e não avançar para o movediço terreno da perda de razão ou seria do sacrifico de nossa inteligência emocional?