Da Redação
A Bronca Popular

Em pleno 2025, enquanto o mundo avança em debates pautados por ciência, inclusão e direitos humanos, o vereador bolsonarista Maurício José Escobar (PL), da Câmara Municipal de Tangará da Serra, decide remar contra a maré da racionalidade e da ciência.
Seu recente projeto de lei pretende proibir a participação de atletas transexuais em competições esportivas realizadas no município, restringindo o acesso com base apenas no sexo biológico de nascimento.
A proposta ignora completamente os consensos internacionais construídos por entidades como o Comitê Olímpico Internacional (COI), a Federação Internacional de Voleibol (FIVB) e a própria Organização Mundial da Saúde (OMS), que reconhecem que o desempenho esportivo de atletas transgêneros está diretamente relacionado a protocolos de transição hormonal e não a uma simples definição biológica de sexo ao nascer.
Além de desprezar a ciência, o projeto reforça estigmas e discriminações que já afetam de forma severa a saúde mental e a inclusão social de pessoas trans
Além de desprezar a ciência, o projeto reforça estigmas e discriminações que já afetam de forma severa a saúde mental e a inclusão social de pessoas trans. A literatura médica é clara: políticas de exclusão aumentam os índices de depressão, ansiedade e suicídio entre a população transgênera. Vários estudos apontam que, após a transição hormonal, os níveis de testosterona, força e desempenho físico de atletas trans femininas, por exemplo, caem para patamares compatíveis com os de mulheres cisgênero.
A proposta, portanto, não tem base científica. Pelo contrário, é um reflexo de um viés ideológico que tenta impor uma visão excludente e biologicamente ultrapassada, desconsiderando décadas de avanços no entendimento sobre identidade de gênero e performance atlética.

A dentista e árbitra da Federação Mato-grossense de Voleibol, Tayra Victoria Covaleski, manifestou indignação com a iniciativa do vereador. Para ela, a medida representa um retrocesso grave na luta por inclusão no esporte e uma afronta aos princípios de igualdade. "Como árbitra, sei que o esporte é para todos. Criar barreiras com base em preconceito só afasta talentos e aumenta o sofrimento de quem já enfrenta tanto para ser aceito", declarou.
Autoridades médicas ouvidas pela reportagem reforçam a crítica: o projeto de lei desconsidera as diretrizes técnicas mais recentes sobre o tema, ignora evidências científicas acumuladas nas últimas décadas e ainda pode gerar ações judiciais contra o município por violação de direitos fundamentais.
Ao invés de proteger o esporte, como alegam seus defensores, o PL do vereador Maurício Escobar apenas cria mais barreiras para uma parcela já vulnerável da sociedade. Especialistas em fisiologia, endocrinologia e direito desportivo reforçam: é possível garantir competições justas e inclusivas, com regras baseadas em critérios científicos – não em preconceito legislativo.
Tangará da Serra merece um debate sério, técnico e humano sobre o tema, não uma legislação oportunista que explora o tema para dividendos políticos com base no medo e na desinformação.
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