EDÉSIO ADORNO
Tangará da Serra
08 de março é o dia internacional da mulher. Essa celebração surgiu em 1909, em Nova York. A ideia do movimento era promover a defesa de direitos civis e da participação feminina no processo eleitoral.
Atualmente, o movimento tem outras pautas, entre elas, igualdade de salário, fim da discriminação, dos abusos e da violência física, psíquica e moral contra as mulheres.
A luta das mulheres é contra a cultura machista, sexista e por acesso a saúde, a segurança, a educação e ao direito de conviver existindo e sendo feliz, independente da concessão de quem quer que seja. A mulher tem direito a exercer na plenitude seus direitos de mulher e de cidadã.
Apesar dos avanços e das conquistas, as mulheres continuam sendo presas e vítimas do machismo chauvinista patriarcal. As mulheres evoluíram, se tornaram sujeitos ativos de direito e deveres, lutam para ocupar seu espaço na sociedade e fazer valer seus direitos de cidadã.
Lamentavelmente, muitos homens chegaram ao Século XXI, mas esqueceram a cabeça no medievo. Não conseguiram se desvencilhar da cultura machista e escravocrata
Lamentavelmente, muitos homens chegaram ao Século XXI, mas esqueceram a cabeça no medievo. Não conseguiram se desvencilhar da cultura machista e escravocrata. Ainda se acham no direito de controlar a mulher e de trata-la como se sua propriedade fosse. Esse tempo já é passado.
Neste 08 de março, como de praxe, as redes sociais estão entupidas de mensagens com conteúdo machista, carregado de preconceito e de coisificação da mulher. Claro, a intenção é lisonjear, agradar, seduzir e, quem sabe criar um clima para logo mais à noite exigir uma recompensa. Expressões tipo “deusa, princesa, rainha, guerreira” e tantas outras revelam a reprodução de uma cultura que tanta infelicidade já causou e deve continuar a causar as mulheres.
Entre todas as manifestações de “reconhecimento” a existência das mulheres, que li nos grupos de Whatsapp e em outras mídias sociais, a mensagem do prefeito Fábio Martins Junqueira (MDB), estampada em sua página no Facebook, é, de longe, a mais descabida e desrespeitosa a mulher. Uma negação ao Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) do governo federal. Veja a tolice que Junqueira escreveu em sua página no Facebook:
"Mulher...símbolo de força e determinação, merece sempre muito amor e admiração".
Como primeira observação, destaco que o emprego indevido de reticências na oração, onde deveria ser usado um entre virgulas, deixou uma mensagem subliminar ou uma insinuação de conteúdo sexual, que o leitor pode interpretar como quiser.
Não é crível que o professor Fabinho desconheça as regras da ortografia e não saiba que os sinais de pontuação são esclarecedores das funções sintáticas da língua português.
O tropeço no vernáculo não é nada se comparado ao conteúdo propriamente dito de sua mensagem.
Dizer que a mulher é “símbolo de força e determinação” é falso. A mulher não é invenção da simbologia.
Reduzir a mulher a símbolos, sem licença poética, é o mesmo que trata-la como coisa ao sabor da sexista cultura alienante.
Você acha que a “mulher merece sempre muito amor e admiração”, conforme escreveu Junqueira? Se concorda com o prefeito, então está na hora de você começar a rever seus conceitos ou aprender a interpretar texto.
O merecedor é aquele que espera uma recompensa, uma promoção, um presente, uma viagem, um abraçou ou qualquer coisa como reconhecimento a um feito. O merecedor cria expectativa de ser reconhecido e valorizado, quando isso não acontece, surge a frustração, a decepção.
Reconhecer merecimento é prerrogativa do chefe, do superior e ele faz esse reconhecimento de acordo suas regras, seus valores e interesses pessoais. Merecimento é algo abstrato, intangível, subjetivo.
Longe de mero merecimento, a mulher tem direito de amar e de ser amada.
o amor é um direito e não um merecimento. Você não precisa lutar pelo amor. Você tem direito de se amar e ser uma pessoa amada, pelo simples fato de existir. Viva o amor que existe dentro de você e terá uma vida cada vez melhor
“O direito é algo que está em nós, faz parte de nosso ser. O merecimento é algo a ser conquistado a partir de nossos esforços”, ensina a psicóloga Vera Felicidade de Almeida Campos e complete: “Nada mais alienante, nada mais coisificante para o indivíduo, para o ser humano, tanto quanto para suas relações sociais e familiares, do que a certeza de merecer, mas não ter direitos”.
Ainda sobre essa questão do amor por merecimento, o jornalista e palestrante Daniel Muller tem uma dica importante: “o amor é um direito e não um merecimento. Você não precisa lutar pelo amor. Você tem direito de se amar e ser uma pessoa amada, pelo simples fato de existir. Viva o amor que existe dentro de você e terá uma vida cada vez melhor”.
A mulher, portanto, tem direito a exercer em sua plenitude todos os direitos que salvaguardem sua condição de mulher cidadã, dona de seu nariz, de seu corpo e de seu destino. Isso não tem nada a ver com merecimento.
Respeitar isso é obrigação de todo e qualquer marmanjo, sob pena de negar a condição humana da mulher.