EDÉSIO ADORNO
Cuiabá
Mesmo reconhecendo que a medida é polêmica e que não existe comprovação de eficácia da cloroquina e da azitromicina no combate a covid-19, o prefeito de Barra do Garças, Roberto Farias, resolveu correr o risco de ser responsabilizado civil e criminalmente por uma decisão temerária e sem lastro na ciência. Farias determinou a distribuição de uma “sacola” recheada de cloroquina, azitromicina e ivermectina para “tratar” pacientes que contraírem o Covid-19 no município.
“Estamos ofertando para a população desde que o médico prescreva o kit para que a comunidade possa ser medicada após a prescrição médica na sua residência. Se for um caso mais leve ou se for internado, automaticamente ela estará recebendo esses medicamentos”, anunciou o prefeito em coletiva de imprensa.
Ato político
Durante o anúncio do fornecimento de cloroquina até o vice de Beto, Wellington Marcos, pegou carona no coronavírus, apareceu para mostrar a cara na imprensa, dar pitacos, capitalizar politicamente sobre uma ação temerária e reforçar o conceito de prefeitável chapa branca. Em tempo: Marcos é advogado, portanto, entende bulhufas sobre saúde.
Que estudo, Clênia?
A secretária de Saúde do Município, Clênia Monteiro, discursou que a decisão de fornecer cloroquina para os pacientes da covid-19 “não foi inventada da cabeça”. Clênia afirmou que houve consenso entre ela e o prefeito Beto, após a realização de um estudo. Porém, não divulgou o tal estudo.
Certamente, os vereadores e o MPE vão querer conhecer de perto esse “estudo” que pode revolucionar a medicina.
“Todos nós temos um protocolo. Isso não foi feito da minha cabeça, da cabeça do prefeito, foi feito de um estudo que nós precisávamos de uma medicação que o paciente pudesse tomar em casa naqueles casos mais leves. Nós conversamos com os médicos e eles explicaram a necessidade dos pacientes continuarem o tratamento”, arrematou Clênia.
Alerta da OMS
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que cloroquina pode causar efeitos colaterais e não tem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19. O diretor de emergências da entidade, Michael Ryan, disse nesta quarta-feira (20) que a cloroquina e a hidroxicloroquina podem causar efeitos colaterais e que não têm eficácia comprovada no tratamento da Covid-19. Ele também afirmou que as substâncias só devem ser usadas contra a Covid-19 em ensaios clínicos.
"Todas as nações, particularmente aquelas com autoridades reguladoras, estão em posição de aconselhar seus cidadãos sobre o uso de qualquer droga. Entretanto, sobre a hidroxicloroquina e a cloroquina, que já são licenciadas para muitas doenças, eu diria que, até esse estágio, nem a cloroquina nem a hidroxicloroquina têm sido efetivas no tratamento da Covid-19 ou nas profilaxias contra a infecção pela doença. Na verdade, é o oposto", disse Ryan.
"Muitos avisos foram emitidos por muitas autoridades sobre os efeitos colaterais potenciais das drogas. E muitos países limitaram o uso dela para ensaios clínicos, sob supervisão de médicos em hospitais — especificamente para a Covid-19, por causa de um número de efeitos colaterais potenciais que ocorreram e podem ocorrer. Dito isso, novamente, cabe a cada autoridade nacional avaliar as evidências a favor e contra essa droga", completou.