Jogada de Bolsonaro em MT favorece candidato do PT

EDÉSIO ADORNO
Redação

A interferência do presidente Jair Bolsonaro no processo eleitoral extemporâneo de Mato Grosso, deflagrado para a escolha do substituto ou substituta da juíza Selma Arruda no senado federal, é uma jogada de alto risco, que pode favorecer a eleição de um candidato de esquerda.  

A explicação, com a ajuda da lógica, se torna muito fácil. O resultado das eleições presidenciais de 2018, a mais polarizada entre esquerda e direita de todos os tempos, é um bom ponto de partida.  

No 1º turno, Bolsonaro abocanhou 981.119 votos em Mato Grosso, o equivalente a 60,04% dos votos válidos.

Já no 2º turno, sob o clima de franco favorito, esse percentual foi elevado para 66,24%. O capitão obteve 1.085,824.  

Um detalhe: mesmo com o recrudescimento da polarização entre direita e esquerda, a satanização do lulopetismo, o clima de euforia com o impeachment de Dilma, a prisão de cardeais do PT e a força esmagadora da Lava Jato, Fernando Haddad recebeu, no 1º turno, 404.604 votos, ou seja, 24,76% dos votos validos. No 2º turno, apesar do clima totalmente adverso, o petista aumentou sua participação no eleitorado de Mato Grosso em 8,82%. Obteve 549,001 votos.  

Outro detalhe: no 2º turno das eleições presidenciais no estado, segundo levantamento do G1, quase 700 mil eleitores deixaram de votar, votaram em branco ou anularam o voto. Somados, correspondem a 31,12% do total do eleitorado do estado.

Esse percentual de abstenção, em razão de fatores de conhecimento geral, deve ser superior a 40%.  

Mais um detalhe: analistas políticos e entendidos em estatísticas avaliam que Bolsonaro consegue transferir em média 20% de seu patrimônio eleitoral para o candidato ou candidata ao senado que receber seu “tá ok”, o que corresponde a algo em torno de 200 mil votos. É com esse cacife que a tenente-coronel PMMT, Rubia Fernanda, entra na disputa pela cadeira de Selma Arruda no senado, que teve o mandato cassado.  

Tem mais: as forças de esquerda, com Haddad, tiveram 33,58% dos votos válidos de Mato Grosso. Isso representa quase 600 mil votos ou, se preferir, três vezes o potencial de transferência de votos do presidente Jair Bolsonaro.  

Essa constatação, subsidiada com números oficiais, associada a sede de revanche da esquerda, coloca os candidatos de esquerda, deputado Valdir Barranco, Gisela Simona (PROS) e a professora Maria Lucia Cavalli Neder (PCdoB) em situação absolutamente confortável.  

Para finalizar: os candidatos de centro-direita, para variar, mais uma vez vão divididos para o embate eleitoral.

Nilson Leitão (PSDB), Júlio Campos (DEM), Dr. Leonardo (SD), Carlos Favaro (PDS) e Otaviano Pivetta (PDT) vão ciscar, basicamente, no mesmo solo gradeado do agronegócio. Fora desse circuito, o deputado Elizeu Nascimento (DC/PSL) também belisca parcela do eleitorado de centro-direita.

Lembrando que o deputado federal Zé Medeiros (pode) não jogou a toalha e continua sendo um candidato potencialmente forte para o pleito de 26 de abril.  Em um comunicado em suas midias sociais, ele confimou que permanece na disputa.  

Em uma enquete em andamento na página do site no Facebook, quase mil internautas responderam à pergunta:  

“O presidente Jair Bolsonaro deve lançar a tenente-coronel da PMMT, Rubia Fernanda (Patriota), candidata ao senado na suplementar de 26 de abril. Você votaria nela, mesmo sem conhece-la, apenas por ser uma indicação de Bolsonaro?”.

54% dos participantes (495 votantes), responderam que não votariam na militar simplesmente por ser indicação de Bolsonaro.