EDÉSIO ADORNO
Da Editoria de Política
No ano de 1966, a ordem do presidente Castelo Branco era “integrar para não entregar” a Amazônia a internacionalização. Esse discurso nacionalista deflagrou o êxodo de sulistas e nordestinos rumo as prometidas terras de fartura, promissão e de jazidas de ouro do Norte do Brasil.
O fluxo migratório foi intenso até o final da década de 1970. Para muitos aventureiros, o sonho de riqueza virou pesadelo, doença, sofrimento e morte. A debandada de volta recebe o nome de refluxo migratório. Esse movimento de retorno incha Cuiabá e Várzea Grande. Invasões de terras e grilos urbanos surgem aos montes da noite para o dia.
Para não perder a paz e sossego provinciano, os políticos de Cuiabá criaram núcleos habitacionais distantes do centro abastado da cidade, como válvulas de escape social. A discriminação e o preconceito ao “pau rodado”, definição depreciativa do migrante, eram visíveis.
Superada essa fase vergonhosa da história política de Cuiabá, um caso ainda mais vexatório parece acontecer em Lucas do Rio Verde. Cuiabá não expulsou os “paus rodados”. Pelo contrário, superou o bairrismo e acabou por aceita-los.
Em Lucas do Rio Verde, o prefeito Luiz Binotti (PSD) é suspeito de promover faxina social. Ele estaria embarcando andarilhos e mendigos em vans e deportando para outros municípios do estado, ainda que não de origem das pobres e infelizes criaturas. Um caso repugnante, se confirmado!

A suspeita contra Binotti parte do prefeito de Tangará da Serra, Fábio Martins Junqueira (MDB), que escreveu em sua página no Facebook: “Uma Van chegou em Tangara da Serra e deixou 12 andarilhos, sendo 3 deixados na praça e 9 deixados no Albergue Municipal. Conforme apurou a Assistente Social, vieram de Lucas do Rio Verde enviados para serem deixados aqui pois não poderiam ficar naquela cidade”.
Fábio acrescenta:
“Por situações como essa que já virou rotina, a dificuldade para atender está levando os órgãos e instituições à exaustão”.
Tangará da Serra está distante das BRs 163 e 364, não é rota para quem busca o Norte do Brasil e, por obvio, não é caminho para quem retorna de Rondônia, do Pará, Roraima ou Amazonas.
A presença cada vez crescente de mendigos e andarilhos desconhecidos na cidade sempre gerou suspeita de ser fenômeno fabricado por prefeitos espertalhões que fazem expurgo social em suas cidades.
Junqueira, agora, de acordo com sua publicação, tem o nome do responsável pelo despejamento de pessoas em situação de vulnerabilidade social em Tangará da Serra. Ele aponta com segurança a prefeitura de Lucas do Rio Verde.
A denúncia é grave e demanda a imediata intervenção do MPE. Deportar mendigos configura faxina social, evidencia a existência de um apartheid racial em Lucas do Rio Verde e coloca o prefeito Binotti em situação delicada.