EDÉSIO ADORNO
Tangará da Serra
“BOMBA ATÔMICA - o exército interceptou a trairagem de Sérgio Moro e Bolsonaro já sabia de tudo”. Esse é o título lacrador de um vídeo que está circulando com força nos grupos de Whatsapp ligados a direita bolsonarista. Até o fechamento desta matéria, a publicação já havia alcançado quase 470 mil visualizações.
O conteúdo da mensagem é uma narrativa de desconstrução da imagem do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro apresentada pelo cidadão identificado como Júlio, que seria empresário em São Paulo.
Em um trecho do vídeo, Júlio incita a milícia bolsonarista a enfileiras ataques a reputação do ex-juiz da Lava Jato. “Vamos que vamos pra cima desse povo, cambada de vagabundos. Esse Moro não presta, não vale nada. Vamos pra cima!”, afirmou em tom de convocação para o confronto.
Júlio começa o vídeo afirmando que a “Abin descobriu que o diretor da PF estava segurando informações sobre irregularidades do governo do Rio, da facada do Bolsonaro e estava passando informações sigilosas para o Dória”, diss ele e acrescentou que “desde março que Bolsonaro sabia da traição, mas esperou que Moro o informasse”, disse o youtuber.
Ataque a Toffoli
Júlio argumenta que “como (Moro) se omitiu e sabendo que Doria, juntamente com Maia, FHC, Alcolumbre e Toffoli estavam tramando sua derrubada com ajuda de Moro, (Bolsonaro) jogou o assunto na mesa e o ministro empalideceu, ficou pálido”.
Emenda o youtuber: “sem outro jeito, resolveu dar as costas ao presidente, que havia exonerado seu subordinado, que era informante da esquerda. Fazendo um coletiva de pura traição declarada”.
E prossegue: “Bolsonaro chegou lá, jogou tudo na mesa, que estava sabendo que as informações estavam sendo repassadas para o Doria, que estava tendo uma grande traição por trás. Quando falou isso pra ele (Moro), ele ficou pálido, daí resolveu fazer a coletiva e sair do governo. Isso foi as 9h da manhã, que foi quando ele teve essa reunião com Moro de manhã. E aí ele fez a trairagem toda, ele já estava printando para tentar ferrar com o Bolsonaro”.
Júlio faz questão de destacar: “lembrando que o Valeixo é o delegado da PF que finalizou o inquérito sobre Adélio Bispo dizendo apenas que ele agiu sozinho, sem dizer quem pagou seus advogados, sem periciar os celulares de Adélio e nem de seus advogados”.
Caso Adélio
O youtuber afirma que “como agora, o diretor da Abin vai assumir a direção da PF muita coisa que estava escondida vai aparecer e os próximos capítulos prometem cenas muito fortes”.
Arapongagem do Exército
No trecho seguinte do vídeo, Júlio arrasta o Exército Brasileiro para a lama e coloca a instituição numa situação constrangedora. Segundo ele, o EB teria conseguido interceptar conversas e descobrir tramas conspiratórias de bastidores. “Aqui tem o diálogo entre o delegado da PF e o Sérgio Moro. A última conversa dos dois. Parece que eles tem o print dessas conversas e que foi o Exército que conseguiu interceptar essas conversas e descobriu todas essas tramas que estavam ocorrendo nos bastidores. O Moro vendido. O delegado falou para o Moro: o PR (presidente) já sabe de tudo. Moro: tudo o quê? Delegado: tudo que planejamos. Moro: como ele sabe? Delegado: a inteligência do Exército. Moro: vou pedir demissão antes que ele me demita e estrague minha história. Delegado: invente uma história”, revelou o youtuber.
Demissão de Moro
Segundo o youtuber Júlio, Sérgio Moro “se demitiu porque Bolsonaro descobriu toda a trama, descobriu que ele estava repassando todas as informações para o Doria, PSDB, Fernando Henrique Cardoso, Toffoli, pra essa gente toda, que é tudo de esquerda, que quer derrubar o Bolsonaro para poder roubar mais. E aí o Moro se demitiu por causa disso”, declara.
Apelo a militância
Na parte final do vídeo, Júlio desmoraliza Moro e pede que a militância se mantenha fiel a Bolsonaro. “Você que é apoiador do Bolsonaro, que chegou a pensar ‘não quero mais saber’ por que Moro é um ídolo. Pare de acreditar em certas pessoas. Veja porque batem em Bolsonaro, porque é um homem honesto”.
E finaliza com um apelo aos eleitores do presidente Jair Bolsonaro: “então, pessoal, Bolsonaro, estamos juntos com Bolsonaro, fechado com Bolsonaro. Vamos que vamos pra cima desse povo, cambada de vagabundos. Esse Moro não presta, não vale nada. Vamos pra cima!”.
Nota da redação: entramos em contato com a assessoria de imprensa do Exército Brasileiro. Assim que obtivermos uma manifestação, ela será acrescentada nesta matéria.
Dá análise do vídeo do youtuber Júlio resta claro que se trata de um fanfarrão ou simples delinquente virtual. A narrativa que o bruto apresenta não tem nexo com a realidade.
Bajular Bolsonaro e rufar o cacete em Moro é um direito dele.
Esse, portanto, não é problema.
O busílis são os indícios de crimes subjacentes a narrativa.
Atribuir ao Exército Brasileiro uma atividade que, além de criminosa, foge a suas atribuições, merece censura ou cadeia. Não é crível que a inteligência do Exército tenha interceptado fala de um ministro de Estado. Isso seria o fim do estado democrático de direito e o começo do estado policialesco aos moldes de ditaduras.
Por outro lado, o vídeo do youtuber apresenta uma denúncia grave a ponto de comprometer a permanência do delegado Alexandre Ramagem na diretoria-geral da Polícia Federal.
De acordo com Júlio, “a Abin descobriu que o diretor da PF estava segurando informações sobre irregularidades do governo do Rio, da facada do Bolsonaro e estava passando informações sigilosas para o Dória”.
Ramagem era o chefe da Abin e foi ascendido ao cargo de diretor-geral da PF graças a amizade e a relação de compadrio que mantém com os de Jair Bolsonaro.
Os três padrinhos do delegado, Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, são investigados justamente pela Polícia Federal. Se os Bolsonaros podem escolher o delegado que vai investiga-los, daqui a pouco vão escolher um juiz amigo também. Essa é a nova política prometida?