Edésio Adorno
O Brasil acaba de dar um passo histórico para democratizar o acesso à Carteira Nacional de Habilitação (CNH). O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) aprovou a resolução que acaba com a obrigatoriedade de aulas em autoescolas, permitindo que o candidato estude por conta própria e faça o treinamento prático com instrutor credenciado — ou condutor experiente, dentro dos requisitos legais.
A mudança, fruto de proposta do Ministério dos Transportes, pode reduzir em até 80% o custo total do processo, hoje empacado na casa absurda dos R$ 5 mil.
Em um país onde 20 milhões dirigem sem habilitação por falta de dinheiro e outros 30 milhões têm idade, mas não conseguem pagar pelo documento, a decisão do Contran corrige uma distorção que há décadas penaliza o trabalhador.
Mas, como sempre, quando o interesse do povo avança, surgem aqueles dispostos a trabalhar para barrá-lo.
Os parlamentares do PL contra o bolso do trabalhador
Os deputados federais Coronel Fernanda e José Medeiros, junto com o senador Wellington Fagundes, todos do PL, correram às redes e aos microfones para defender… as autoescolas.
Não defenderam o trabalhador, nem o jovem que sonha com um emprego melhor, nem o motoboy que precisa da CNH para sobreviver. Defenderam os empresários que lucram milhões com a obrigatoriedade imposta ao povo há décadas.
É constrangedor — mas não surpreendente.
Ao contrário do discurso fácil que fazem sobre “liberdade”, “estado mínimo” e “defesa do povo”, na hora da verdade ficam ao lado do setor mais elitizado e engessado do trânsito brasileiro, um modelo produzido e mantido pelas próprias resoluções do Contran ao longo dos anos.
A história que eles fingem não conhecer
Muito antes de a resolução 789/2020 consolidar a carga mínima obrigatória de aulas práticas, parlamentares de diferentes espectros já tentavam modernizar o processo:
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O PL 6485/2019, de Kátia Abreu, buscava acabar com essa obrigatoriedade.
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O PL 4474/2020, de Kim Kataguiri, tinha o mesmo objetivo.
Ambos foram engavetados — enterrados pela pressão das autoescolas, que movimentam uma das cadeias mais lucrativas do setor de serviços.
Agora, quando finalmente o Contran avança, quem se levanta contra?
Coronel Fernanda, Medeiros e Fagundes.
Não por preocupação com segurança no trânsito — argumento que cai por terra diante dos 40 mil acidentes anuais mesmo com o modelo atual, o que revela que obrigatoriedade não garantiu formação de qualidade.
Eles se levantam porque defendem interesses econômicos, não o povo.
A pergunta que não quer calar
Por que três parlamentares que se dizem “defensores do trabalhador” se apressam tanto para proteger os ganhos das autoescolas?
Por que defendem manter uma barreira financeira que impede milhões de brasileiros de buscar melhores oportunidades de emprego?
A resposta é incômoda — mas óbvia:
não é o povo que eles querem defender.
Enquanto isso, o Brasil avança
Com a nova resolução, o processo de habilitação fica mais barato, mais acessível e mais realista para quem depende da CNH para trabalhar, especialmente nas categorias A e B. Enquanto o povo ganha alívio no bolso, os deputados do PL escolhem defender privilégios. A história vai registrar de que lado cada um ficou. E não foi o lado certo.













