Edésio Adorno
Tangará da Serra
Uma sucessão de erros, negligência e falta de profissionalismo redundaram na morte de um paciente no Hospital Municipal de Tangará da Serra. Para preservar a família, que teme retaliação, nomes e datas serão omitidos nessa matéria. Mas a riqueza e abundância do material que chegou a nossa redação evidência que a URA – ala destinada a tratamento de pacientes covid-19 – já pode ser chamada de abatedouro ou simplesmente casa de expiação.
Questão de justiça!
Antes de pormenorizar o fato, uma ressalva se faz necessário por questão de justiça. Os enfermeiros e técnicos de enfermagem que atuam na URA no enfrentamento direto a covid-19 são profissionais zelosos, competentes e dedicados. Estão 24 horas ao lado dos pacientes e a todos dedicam atenção especial, além de muito carinho.
Medicar, exemplo de relapso e negligência
Infelizmente, não se pode dizer o mesmo de alguns dos inexperientes médicos contratados pela Medicar Emergências Médicas Campinas Ltda, que foi contratada pela prefeitura, em novembro de 2020, pelo valor de R$ 5.231.305,32, para gerir os leitos de UTIs e de enfermaria exclusivos para covid-19.
O caso
Um paciente deu entrada no Hospital Municipal, foi levado para a URA e recebeu tratamento contra covid-19, quando na verdade havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Esse paciente permaneceu na área de covid-19 até sair o resultado negativo para a doença. Foi retirado da URA e transferido para a UPA, onde permaneceu por quase dois dias, até receber alta médica.
O paciente, segundo relato emocionante da família, não recebeu nenhum tratamento para AVC. Aliás, sequer diagnosticaram a doença. “Após alta, no outro dia voltou a passar mal, o Samu foi chamado e o paciente foi novamente levado para o Hospital Municipal, onde infelizmente morreu”.
Parentes do falecido alertaram com insistência ao médico da Medicar que o caso não era covid-19, mas não foram ouvidos e o resultado não se fez esperar.
A pessoa foi a óbito sem receber o tratamento devido.
Típico caso de negligencia associada com imperícia ou coisa bem pior.
Já faz alguns dias que esse paciente faleceu.
Os familiares tem uma única certeza: “foi falta de tratamento certo porque ficou o tempo todo lá sem medicação nenhuma para AVC. Temos certeza absoluta que foi falta de experiência de alguns "doutores" que lá trabalham”, resume um irmão do paciente que perdeu a vida por falta de atendimento adequado
“Machuca muito saber que imploramos para não colocar nosso parente na área de covid-19. A gente sabia que ele precisava de outros cuidados, mas ficamos de pés e mãos amarradas, totalmente impotentes. O protocolo covid-19 fala mais alto. E acabou que complicações do AVC levou a pneumonia e não teve tempo pra fazer mais nada”, relata um parente.
Ainda de acordo com depoimento de familiares, o paciente permaneceu por quatro dias na área de covid-19 até chegar resultado do exame de sangue. Durante esse tempo, os médicos não informaram que tipo de tratamento foi dispensado a pessoa. “Deram alta, foi para a UPA, ficou com a medicação continua dela e tiraram só AASS”, diz
Depois de permanecer por vários dias no Hospital Municipal, entre URA e UPA, o paciente foi mandado para casa.
“Ainda cansado devido a pneumonia e com dificuldade de fala, sem movimentos do lado esquerdo devido ao AVC. Chegamos em casa no período da manhã e a noite tivemos que leva-lo novamente para o hospital, onde infelizmente faleceu”, conta um parente da vítima de suposta negligência ou imperícia medica.
“Falaram que passou da hora de fazer o tratamento”, completa
Conclusão
Nossa reportagem apurou que falta experiência e qualificação técnica a alguns dos médicos contratados pela empresa Medicar. “Tem médico que não sabe intubar um paciente”, diz um servidor do Hospital Municipal. “Também não conseguem diagnosticar uma doença diferente, tudo é tratado como se fosse covid-19”, emenda.
Uma outra pessoa ligada a saúde pública de Tangará da Serra declarou à nossa reportagem, sob a condição de anonimato, via mensagem de texto, que os médicos profissionais da empresa que estariam matando o povo.
“Já ouvi técnica de enfermagem chorando e falando que aquele ‘tal’ médico não sabe intubar um paciente”.
Ainda de acordo com nossa fonte, a constante rotação de médico prejudica uma boa atuação na resolução de problemas graves.
Nota da redação:
seria interessante que algum vereador preocupado com vidas humanas investigasse esse e outros casos, como a da morte em circunstância ainda não esclarecida da jovem Debora Brito.
Bom também seria o Ministério Público abrir um processo de investigação para elucidar mortes equivocadamente atribuídas a covid-19.