Da Redação
Blog Edição MT
É quase um segredo de polichinelo no mundo jurídico brasileiro: há magistrados que, embora revestidos da missão de zelar pela moralidade pública, fazem florescer verdadeiras dinastias na advocacia privada. Tudo absolutamente dentro da lei — e exatamente por isso tão escandalosamente imoral.
Quem, em sã consciência, contrataria um advogado qualquer quando pode pagar a peso de ouro aquele que carrega um sobrenome reverenciado (ou temido) nos tribunais superiores? Não é preciso nem o faro de um detetive: basta observar os contratos milionários que surgem no rastro dessas relações.
No caso do Banco Master, comandado pelo banqueiro Daniel Vorcaro, a história ganhou contornos de novela jurídica. A advogada Viviane Barci de Moraes não foi contratada por seus dotes técnicos pela cifra surreal de R$ 129 milhões, diluídos em 36 meses — algo em torno de R$ 3,6 milhões mensais.
Tudo indica, ao observador comum, que o que pesou mais que qualquer memorial jurídico foi o sobrenome Moraes. E, segurante, o fato de ser esposa de um dos homens mais poderosos e temidos da República: o ministro Alexandre de Moraes.
A situação, para o cidadão médio, é simplesmente escabrosa.
Ainda mais quando se soma ao cenário a revelação de que Dias Toffoli, outro ministro do Supremo Tribunal Federal, teria viajado a Lima, no Peru, para assistir à final da Libertadores a bordo do jatinho do mesmo advogado-banqueiro Daniel Vorcaro. Coincidência? Pode até ser. Mas o cheiro que sobe não é exatamente o de virtude republicana.
Os fatos que alimentam esse mal-estar são públicos. O contrato milionário entre o Banco Master e o escritório Barci de Moraes Advogados — onde, além da esposa de Alexandre de Moraes, também trabalham dois dos três filhos do ministro — foi encontrado no celular do próprio Vorcaro durante a Operação Compliance Zero da Polícia Federal. E, segundo revelação da colunista Malu Gaspar, não havia sequer uma causa específica justificada: tratava-se de um contrato guarda-chuva, pronto para atender “diversos temas conforme a necessidade”.
Não bastasse isso, outras reportagens mostram que a família Moraes adquiriu recentemente uma mansão de R$ 12 milhões, de 725 m², no Lago Sul, paga à vista.
Nada disso, isoladamente, configura crime. Nada disso, isoladamente, prova tráfico de influência. Mas o conjunto da obra — contratos milionários sem objeto claro, vínculos empresariais com investigados, viagens em jatinhos de clientes, parentes de ministros enriquecendo em bancas jurídicas que orbitam o poder — é um retrato sombrio de um sistema que permite muito mais do que deveria.
O cidadão comum, que enfrenta fila em posto de saúde e paga advogado em 12 vezes no cartão, olha para esse cenário e se sente insultado. O que deveria ser exemplo de integridade institucional virou vitrine de práticas que, embora legais, afrontam princípios elementares de moralidade administrativa.
No fim, a pergunta que ecoa é simples e devastadora:
como exigir ética do país se a própria cúpula da Justiça se permite viver num mundo onde tudo pode, desde que seja bem embalado na letra fria da lei?













