Eduardo Gomes*
Uma novela que se arrasta década após década. Assim é a pavimentação da BR-163, que para nós é Cuiabá-Santarém, e do outro lado da divisa paraense vira Santarém-Cuiabá. A morosidade da obra vai muito além da esfera do Ministério dos Transportes. Ela embute um bairrismo reforçado por interesses econômicos. Mais que a conclusão dessa grande rodovia longitudinal, seu eixo de influência precisa de emancipação política com a criação dos estados de Tapajós, desmembrado do Pará, e de Mato Grosso do Norte, seccionado de Mato Grosso.
A interligação asfáltica de Santarém com a malha rodoviária nacional pavimentada significará um baque para os grandes controladores da navegação interior, sediados em Belém e Manaus. A capital paraense sente urticária só de imaginar a concorrência rodoviária e mais no futuro a ferroviária. Também fica desconfortável diante do universo que se descortinará à grande cidade onde as águas do Tapajós se juntam ao Amazonas.
Há uma rivalidade política muito grande entre Belém e Santarém, cidades distantes uma da outra mais de mil quilômetros e sem nenhum traço cultural comum entre elas. A capital precisa da receita tributária santarena, para bancar empregos de conchavos e mordomias dos poderes e seus penduricalhos. Por isso, boa parte da bancada federal paraense e seu governo não entram realmente na luta pela BR-163.
O Brasil precisa se oxigenar institucional e territorialmente. É preciso enxugar a máquina pública e moderniza-la. Paralelamente a isso os grandes estados devem ser divididos. Amazonas, Pará, Mato Grosso, Minas Gerais e Bahia não podem mais continuar com suas bases territoriais. Imaginem como seria hoje, se Mato Grosso do Sul não fosse criado? Como administrar? Como compor politicamente? Como evitar gritantes desníveis sociais numa imensidão como aquela anterior ao seccionamento, que desmembrou 357 mil quilômetros quadrados e o remanescente continua com 903 mil quilômetros quadrados?
A luta pela BR-163 e a ferrovia Ferrogrão servem de bandeira ao desenvolvimento das áreas que precisam ser transformadas em estados. O ex-senador Mozarildo Cavalcanti, de Roraima, e o senador Wellington Fagundes quando deputado federal lançaram as sementes da divisão territorial, que foi abafada no Pará por força de um plebiscito que quase transformou Belém numa praça de guerra. Em Mato Grosso, a política do toma lá, dá cá, sufocou a proposta, que deve ser retomada.
É preciso que se tenha em conta que a base territorial de Mato Grosso do Norte o nosso Nortão tem 35 municípios, com cidades bem estruturadas a exemplo de Sinop, Alta Floresta, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Juara, Tapurah, Colíder e Guarantã do Norte. Que a região é um grande polo de produção de grãos, plumas, carnes bovina e suína, aves, e transformada de proteína vegetal em proteína animal. Do lado paraense, Santarém esbanja vitalidade econômica, e essa, será fortalecida com a previsível expansão da atividade portuária e seus elos, a exemplo do esmagamento de soja e produção de biodiesel.
Mais que asfalto, mais que os trilhos da Ferrogrão, é preciso emancipar Tapajós e Mato Grosso do Norte.No passo seguinte levar essa proposta para a criação do Estado do Araguaia e de Aripuanã, aqui; e de Carajás, no Pará.
Estado menor, mais identificado entre seus cidadãos e municípios, sem os vícios da concentração urbana na capital, onde as mamatas nas tetas públicas são incontáveis. É Isso que o Brasil precisa e terá que lutar para conseguir, ainda que levantem opositoras vozes roucas do bairrismo de conveniência.
Que surjam os estados de Tapajós e Mato Grosso do Norte, e que eles ponham fim ao litígio territorial de Mato Grosso com o Pará, numa área de 22 mil quilômetros quadrados, que Cuiabá por omissão, negligência e indiferença nunca se preocupou em solucionar, para tanto se empenhando com o vigor que se faz necessário.
Que surjam estrelas na Bandeira do Brasil. Que se acenda a luz do amanhã de prosperidade e paz para os brasileiros que vivem na área de influência de Santarém, e de Sinop, que deverá ser a capital mais charmosa dessa terra ensolarada e abençoada.
Eduardo Gomes de Andrade é editor de boamidia