EDÉSIO ADORNO
Tangará da Serra
Enquanto o mundo, entre perplexo e atônico, busca uma alternativa para conter a escalada apavorante do coronavírus (cod-19) e dissipar a síndrome do pânico que empurra os brasileiros para o isolamento social, o presidente Jair Bolsonaro desdenha da situação e se apresenta como super-homem.
“Depois da facada, não vai ser uma gripinha que vai me derrubar”, afirmou Bolsonaro, com a empáfia de um imortal. Esqueceu, porém, de um detalhe: sobreviver aos golpes de Adélio já rendeu a presidência do Brasil como recompensa. Pretender a imunização contra o coronavírus, aí já é exigir demais do maluco de Juiz de Fora/MG.
Bolsonaro parece viver numa redoma cercado por áulicos e capachildos. Ele e seus vassalos acreditam que o coronavírus tenha sido fabricado pelo Partido Comunista Chinês.
O objetivo do país asiático, segundo essa mirabolante teoria da conspiração, seria causar pânico, comoção social e vulnerabilizar as economias dos países ao redor do mundo para poder comprar a preço de banana suas riquezas.
A proposito ou por estupidez, Bolsonaro não consegue enxergar a montanha de corpos que é formada diariamente nos necrotérios de hospitais da velha Roma. Pilhas de cadáveres são jogadas nas carrocerias de caminhões do exército, que em comboio fúnebre deixa a capital italiana e segue rumo aos crematórios de cidades vizinhas.
De volta ao Brasil
Tangará da Serra tem uma população estimada de 110 mil habitantes. Na hipótese de apenas 10% desse universo contrair o coronavírus e precisar de assistência médico-hospitalar, teremos mais de 10 mil pessoas disputando a tapa vagas na rede pública e nos hospitais privados.
Na eventualidade de apenas 5% desse universo morrer por falta de leito de UTIs, de pronto atendimento médico adequado, teremos 500 cadáveres espalhados pela cidade.
Esse cenário pode não se concretizar. Mas foi com base nele que o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) alertou que o sistema de saúde pode entrar em colapso a partir de abril. Sem base no que fala, Bolsonaro repreendeu Mandetta e voltou a acusar a imprensa de causar histeria em torno do coronavírus.
O pior cego é aquele que se recusa a enxergar ou que enxerga apenas o próprio umbigo.
Bolsonaro acusa governadores de lunáticos, se posiciona contra a quarentena decretada pela maioria dos estados, defende o funcionamento de aeroportos, shoppings, do comércio em geral, não aceita toque de recolher e, neste domingo, na revista eletrônica da TV Record, acusou os governadores de exterminadores de empregos.
Empregos exterminados podem ser recuperados, ao contrário de vidas exterminadas, que jamais serão resgatadas. A omissão, a indiferença humana, a desídia e o egocentrismo narcisista de Bolsonaro não podem se sobrepor aos interesses do país a ponto de deixar os brasileiros expostos aos riscos do coronavírus.
Tenho divergências incontornáveis com o prefeito de Tangará da Serra, Fábio Martins Junqueira (MDB). Mas neste momento crucial de nossa história, tenho que apoiar até os eventuais excessos que ele venha cometer. O que está em jogo é nossas vidas.
O cenário apontado em tópicos anteriores não será diferente e nem menos dramático em nenhum dos 141 municípios de Mato Grosso. Nenhum município do Brasil tem estrutura hospitalar ou capacidade medica instalada para atender uma demanda dessa dimensão. Todos foram pegos de calça curta!
O melhor a fazer é investir na prevenção.
A sabedoria popular ensina que prevenir sempre foi melhor que remediar.
Tangará da Serra está fazendo a lição de casa.
Medidas amargas foram adotadas.
Direitos individuais foram sacrificados.
Empresários de todos os ramos de atividade foram penalizados.
Profissionais liberais, trabalhadores da iniciativa privada e do setor público também amargam o preço da luta pela sobrevivência.
O momento exige sacrifício de todos.
Quando surgir o ponto de inflexão no mapa do covid-19, a cidade vai respirar aliviada e poder cantar o samba enredo da Portela, de Paulinho da Viola: o coronavírus “foi um rio que passou em minha vida”.
Depois da travessia, saberemos agradecer e reconhecer quem fez por nossas vidas. Ah, como saberemos!