EDÉSIO ADORNO
Macron e Raoni exigem e o presidente Jair Bolsonaro expulsam garimpeiros da Floresta Amazônica
Tangidos como boiada, trabalhadores que exploravam uma lavra em Aripuanã foram encurralados, na manhã desta segunda-feira, por 160 policias fortemente armados. A ordem, sabe lá vinda de qual divindade, era clara: fechar o garimpo e afugentar os garimpeiros.
O chefe da operação não teve sensibilidade para ouvir ninguém. Encastelado nas dependências da Nexa, sequer recebeu uma comissão de vereadores. O povo continua sem direito, sem voz e sem vez. Patriotas chicoteados pelos senhores da Pátria. Duas ou mais dessas pobres criaturas já tombaram cravejadas por balas de agentes do estado.
Os iluminados ministros do Supremo Tribunal Federal já decidiram que dezenas ou centenas de condenações da Lava Jato serão anuladas. A razão para o despautério é um deboche. O delatado tem o direito de apresentar suas alegações finais depois da manifestação do delator.
Os garimpeiros de Aripuanã foram expulsos sem direito a defesa. Não tiveram tempo nem mesmo para retirar seus pertences. O fogo pode devorar tudo.
Caso esse abuso aconteça, o prejuízo será incalculável para as milhares de famílias que sonhavam com um futuro de menos sofrimento, miséria, vergonha e dor. O Estado, sob a esquerda ou à direita, será sempre o grande Leviatã.
As ruas de Aripuanã estão fervilhando. Não há hotel para acomodar tanta gente. Restaurantes também não suportam a demanda. Homens, mulheres e crianças vão perambular durante a noite como zumbi notívago. Patriotas sendo tratados como forasteiros em sua própria pátria.
Dos congressistas de Mato Grosso, até agora, apenas a senadora Selma Arruda (Podemos) ergueu a voz em defesa da regularização da atividade garimpeira. Jaime Campos (DEM) e Wellington Fagundes (PR) ainda não se pronunciaram. Pelas bandas da Assembleia, permanece o mais absoluto e cumplice silêncio com a truculência do aparelho repressor do Estado.
Coincidência ou não, o prefeito de Aripuanã não se encontra na cidade. Jonas Canarinho (PSL) participou, pela manhã, de um evento na Associação Mato-grossenses dos Municípios (AMM), em Cuiabá. O presidente da Câmara de Vereadores, Irani Rodrigues, tentou conversar com o chefe da operação para fazer algumas ponderações. Não foi atendido.
No início da noite, uma reunião foi realizada na sede do parlamento. Amanhã, novas reuniões serão realizadas. Rodrigues insiste na busca de uma solução negociada para o conflito. “Queremos intermediar o diálogo. Precisamos evitar o pior. Os trabalhadores precisam ser ouvidos e respeitados”, declarou.
O fechamento do garimpo e a expulsão dos garimpeiros atende uma exigência da comunidade europeia, das ONGs ambientalistas, do cacique Raoni e, em especial, do presidente francês, Emmanuel Macron. Bolsonaro optou pelo sacrifício de seus eleitores para melhorar sua imagem no exterior. Será que fez uma escolha inteligente?
Nota: homens, mulheres e crianças estão fazendo a pé o percurso de retorno do garimpo para Aripuanã. O cansaço, a sede a fome já fizeram as primeiras vítimas. Em uma rede social, um mulher cobrou que o prefeito coloque ônibus para prestar socorro a esses trabalhadores desalojados pela Polícia Federal. Particulares também podem colaborar com essas criaturas humanas.
No Jornal da Globo, uma matéria leviana, falsa e desrespeitosa as familias que tentavam no garimpo construir uma vida melhor e mais humana. Assista o vídeo: