EDÉSIO ADORNO
Tangará da Serra
Em anúncio na imprensa, o Samae informa: “as mais de 150 mil análises/ano comprovam que não há qualquer sinal de agrotóxicos na água distribuída em Tangará da Serra”. A peça publicitária reitera que “a qualidade de nossa água é inquestionável”. Será verdade?
Os número do Samae impressionam. Mas por si só são insuficientes para afastar qualquer dúvida quanto a higidez da água que a população consome. A própria autarquia informa, em sua página na Web, que apenas as análises básicas solicitadas pela Portaria 518/2004, do Ministério da Saúde, são realizadas de hora em hora pelos operadores do sistema. “Algumas análises que não são possíveis realizarmos em nossos equipamentos enviamos a outros laboratórios credenciados pelo Inmetro para que o façam (sic)”, destaca a publicação oficial. O que seriam analises básicas?
Essas analises buscam manter o padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo humano. Isso significa basicamente verificar se há presença de escherichia coli ou coliformes termotolerantes ou coliformes totais.
Assegurar o padrão recomendado de turbidez da água é outro escopo dessas analises. Preservar o padrão de potabilidade para substâncias químicas que representam risco à saúde humana, como fluoreto, cobre, arsênio, chumbo, benzeno, orgânicas acrilamida, cloreto de vinila, tetracloreto de carbono, desinfetantes e cloro livre é outra premissa das análises realizadas pelos químicos e biólogos do Samae.
Isso explica porque as 1.500 analises/ano não se prestam para afastar de vez a possibilidade de existência de resíduos de agrotóxico na água que é servida a população.As “analises básicas” realizadas pelos técnicos do Samae não tem essa finalidade.
O método para detectar resíduos de pesticidas na água seria outro.
Estamos no período de safra. Não há pulverização de lavouras por agrotóxicos. Logo, encontrar contaminante liquido em água seria impossível. E ainda que um exame laboratorial desse positivo teria que saber qual a concentração para gritar fogo na floresta.
Explico
Para se certificar se existe ou não resíduos de contaminantes por agrotóxicos na água que é servida a população de Tangará da Serra o mais seguro seria fazer uma análise da vida aquática do Queima Pé
Uma colher de açúcar no cafezinho de um diabético pode causar uma baita hiperglicemia. Diluir essa mesma colher de açúcar na caixa d’agua que abastece a residência desse diabético pode não causar mal algum a sua saúde devido à baixa concentração de glicose.
Para se certificar se existe ou não resíduos de contaminantes por agrotóxicos na água que é servida a população de Tangará da Serra o mais seguro seria fazer uma análise da vida aquática do Queima Pé.
Os animais que lá vivem podem ter acumulado em seus organismos ou não resíduos de pesticidas ao logo do tempo. Enquanto essa analise não for feita, é cientificamente impossível afirmar que a qualidade da água servida a população é inquestionável.
O Samae tem o diagnóstico da saúde do ecossistema formado pelo córrego que abastece a cidade? Se tem, seria interessante disponibilizar esse documento aos consumidores. A Portaria 518/2004, do MS, obriga as companhias de agua manter a população devidamente informada quanto a qualidade do produto.
Uma sugestão a direção do Samae
Tangará da Serra, independentemente da existência ou não de resíduos de agrotóxico na água que é servida a população, poderia sair na frente e oferecer um exemplo de amor a vida para os demais municípios do Estado.
Uma atitude meritória seria investir na precaução. Especialista consultado pelo site aponta o uso de filtro de carvão ativado na saída da água, arborização entorno dos afluentes, como forma de prevenção. O uso de filtros de membrana semipermeável também é recomendado.
É preciso mudar a lógica do Brasil tragédia.
O incêndio no CT do Flamengo que deixou um saldo de 10 mortes poderia ter sido evitado.
As dezenas de mortes causadas pelo desabamento de um prédio no Rio de Janeiro poderiam ter sido evitadas com medidas preventivas.
A tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais, é o exemplo mais escandaloso da falta de prevenção.
A água de Tangará da Serra pode ser segura, deve ser segura e apropriada para o consumo humano. No entanto, não custa investir em prevenção.
O dinheiro que o Samae está torrando em inócua campanha publicitária poderia ser canalizado para essa finalidade. Se alguém acha que investir na prevenção a saúde é jogar dinheiro fora, consulte, então, uma família as voltas com o tratamento de câncer.