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VARIEDADES Domingo, 02 de Agosto de 2020, 16:36 - A | A

02 de Agosto de 2020, 16h:36 - A | A

VARIEDADES / Amor sem barreiras

Modelo e enfermeiro indígena se apaixonam em aldeia no Xingu

Aline Weber, que já desfilou para diversas grifes, e Pigma Amary estão noivos desde agosto de 2019

BIANCA FUJIMORI
Midia News



Quando decidiu viajar para a Aldeia Amaru, em Mato Grosso, a ideia da top model catarinense Aline Weber era se aprofundar um pouco mais na cultura indígena. Mas foi lá, em pleno Alto Xingu, que ela conheceu o seu futuro noivo. 

Sendo uma mistura de quatro etnias indígenas, Pigma Amary, técnico em enfermagem, pediu a modelo em casamento por videochamada em agosto de 2019 após os dois viverem um romance à distância. 

Aline, que tem 16 anos de carreira e trabalhou com grifes como Prada, Chanel, Yves Saint Laurent, Fendi, Givenchy e Paco Rabanne, já viajou o Mundo todo a trabalho. Mas daquela vez ela buscava tirar férias e se aproximar da cultura indígena. 

“Fiz uma viagem à Amazônia de 2016 para 2017. Foi a primeira vez que tive contato com a cultura indígena. Meu intuito era tirar férias e conhecer melhor a cultura”, conta Aline, que voltaria em uma nova viagem no ano seguinte. 

O casal se conheceu na aldeia de Pigma em 2018. Na época, ele ainda não atuava na área da saúde, tinha acabado de se formar. 

Ainda muito tímidos, eles só foram dar o primeiro beijo em uma viagem para a Chapada dos Veadeiros (GO), dias depois de saírem da aldeia. 

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“Saí do Xingu e fui para a Chapada dos Veadeiros e o Pigma foi para lá também. Foi quando a gente se beijou a primeira vez. Desde então, nunca mais paramos de nos falar”, revela a modelo. 

Aline, contudo, morava em Nova York, nos Estados Unidos, e Pigma trabalhava como técnico em enfermagem no Xingu. O casal passou um ano namorando à distância. Porém, a modelo acredita que a força de vontade dos dois fez o relacionamento ter resistido às barreiras. 

“Foi bem difícil. Só conseguíamos nos falar quando o gerador de energia era ligado. Foi assim durante um ano, mas acho que o empenho dos dois foi fundamental para ter dado certo”, afirma. 

Em agosto do ano seguinte ao que se conheceram, o profissional de saúde tomou a iniciativa e propôs o casamento. 

Críticas e preconceito 

Assim como muitos casais inter-raciais, Pigma e Aline também viveram momentos de desaprovação da sociedade. 

Mesmo com apoio das famílias, o casal revela que já recebeu diversos comentários preconceituosos. 

“Já sofremos preconceito, sim, de ambos os lados. A maioria das pessoas, principalmente nossas famílias, sempre nos apoiou, mas ainda ouvimos comentários preconceituosos por aí, infelizmente”, relata a modelo. 

Em relação à polêmica da chamada apropriação cultural, ao aparecer em várias fotos pintada com símbolos indígenas sendo uma mulher branca, Aline explica que são os próprios índios que convidam para participar dos rituais quando se está na aldeia. 

“O que acho que é apropriação cultural é quando, por exemplo, usam pinturas indígenas para a venda de produtos, sem repassar verba a eles, ou usam dos costumes fora de contexto”, afirma. 

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Mesmo vindo de culturas totalmente diferentes, o casal conta que os dois têm uma personalidade muito parecida e isso os ajuda no relacionamento. 

“Somos bem tranquilos em relação a isso. Qualquer diferença que surja ao longo da relação, conversamos muito e usamos para somar um ao outro”, explica a top model.  

Chegada da pandemia 

Com a pandemia de coronavírus se alastrando pelo Mundo no início deste ano, o casal decidiu morar junto em São Paulo. Eles ficaram três meses juntos, mas o indígena decidiu voltar para Mato Grosso para ajudar na saúde das aldeias. 

O técnico relata que falta assistência nas reservas, como profissionais atuando diretamente para conter o coronavírus. 

“Tem muito pouco para os índios. Faltam medicamentos e respiradores. Não temos assistência do governo, que praticamente esqueceu da gente”, afirma. 

Pigma revela que recentemente perdeu a mãe e o cunhado para o vírus. Nessa época, ele já estava trabalhando em sua aldeia, mas não tinha estrutura para salvar seus familiares. 

“Foi um em seguida do outro, num intervalo de uma semana. Eu trabalhava como voluntário, mas infelizmente não tinha mais o que fazer sem estrutura. Tentamos ajuda na cidade mais próxima, mas não tive como salvar minha mãe”, lamenta.

 

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